domingo, 22 de maio de 2011

Os torturadores e os militantes da Luta Armada. Qual a diferença?

Assistam ao vídeo acima e depois leiam o que segue abaixo.




Esse conteúdo a gente só vai ver no segundo semestre, mas não custa nada adiantar alguns aspectos, sobretudo porque meu itento é sempre desmascarar as mentiras que são repetidas nas salas de aula desses país e reproduzidas em material didático que deveriam se ater a fatos e não a versões. Mas vamos ao caso.

O Livro Nova História Crítica, volume único para o Ensino Médio, de Mário Schimdt, da editora Nova Fronteira, traz o seguinte texto na página 745:

"O que dizer dessa loucura toda [refere-se à luta armada e aos guerrilheiros] foram adultos e jovens, homens e mulheres, muitos ainda adolescentes, que tiveram a coragem de abandonar o conforto do lar, a segurança de uma vida encaminhada, a tranquilidade da vida de jovem de classe média, para combater um regime opressor de armas na mão. Pessoas que dão a vida pelo ideal de libertação de seu povo não podem ser consideradas criminosas. Mesmo que a gente não concorde com os caminhos trilhados. Eles mataram? Certamente. Mas nunca torturaram. Nem enterraram suas vítimas em cemitérios clandestinos. E se os tivessem feito, nada disso justificaria a tortura e o assassinato executados pelos Estado. Além disso, seria mesmo inadmissível pegar em armas contra um regime antidemocrático que esmagava o povo brasileiro?"

Mais adiante, na página seguinte, o autor esquece a objetividade mais uma vez e propaga a mais eficiente mentira que a Luta Armada criou, acompanhem:

"Uma geração que pagou um alto preço por seus sonhos: pagou com o próprio sangue. Por isso, amigo leitor, se hoje eu posso escrever essas linhas, se hoje você pode dizer o que pensa, saiba que entre os responsáveis por nossa liberdade estão aqueles que deram sua vida para que um dia o país não estivesse mais sob o jugo das botas da tirania"

A versão de que os guerrilheiros e as organizações que fizeram a Luta Armada contra a ditadura militar no Brasil eram defensores das liberdades democráticas e foram responsáveis pela derrocada do regime é simplesmente mentirosa. Mas isso fica para depois. Por enquanto eu quero apenas considerar um outro aspecto. Vamos a ele.

Os militantes de esquerda que pegaram em armas e cometeram assassinatos, justiçamentos e perpetraram toda sorte de crimes, ao contrário do que o autor do livro defende, podem e devem ser chamadas de criminosos e assassinos. Afinal, nas suas ações, muita gente inocente, porque estava do lado dos inimigos tinha que ser morta.

Nenhuma "causa" desculpa o crime. Da mesma forma que eu não tolero e não desculpo que os agentes do Estado tenham praticado nos porões do regime atos hediondos contra a dignidade humana, mesmo contra aqueles que sabidamente queriam matá-los, que haviam cometidos assaltos, sequestros e assassinatos, e cujas organizações em que militavam pregavam abertamente a ditadura do proletariado, mesmo assim, a tortura é uma covardia inominável. O assassinato político uma torpeza.

Causa-me estranheza que hoje esses guerrilheiros que foram tão covardes e criminosos quanto os torturadores do regime, posem de heróis da resistência democrática e recebam do Estado polpudas indenizações por atos que deveriam envergonhar, se não a eles, pelo menos a nação, pois foram pessoas que cometeram os mais torpes assassinatos e crimes sob a cínica justificativa de que estavam combatendo um regime repressor, como se esse fato lhes dessem o direito e a legitimidade de agir da forma que agiram. Gente que diante da escolha moral entre a vida e a morte do adversário, não titubeava em dar o tiro de misericórdia como vocês viram no vídeo acima. Gente que fala com indisfarçável orgulho e macabra vaidade de como executavam os inimigos. Volto a perguntar: que diferença de ordem moral pode haver entre essas pessoas e os torturadores? Por que hoje esses militantes são considerados heróis e exemplos de democratas, e os torturadores criaturas pérfidas e nefastas? Para mim, ambos merecem a lata de lixo da história.

Mas não será fácil. Já está na concepção de muita gente que todos aqueles que se indispuseram com o regime militar imposto no Brasil a partir de 1964, eram democratas convictos, vítimas de um regime cruel e macabro. Por isso, é tão fácil convencer as pessoas de que homens e mulheres, muitos ainda adolescenetes, que na década de 1960 aderiram à Luta Armada e que tombaram sob o peso da repressão merecem o título de heróis e que as ações criminosas que perpetraram, justificam-se plenamente. É asqueroso? É. Mas tem muita gente que acha o máximo.

A jornalista Miriam Leitão, por exemplo, escreveu em novembro do ano passado em sua coluna em O GLOBO um texto em que trata esses jovens quase como heróis. Leiam:

Hoje, 40 anos depois, o país tem que olhar para esse passado sem vetos.

Nunca peguei em armas, mas posso entender quem o fez, porque vi o contexto e sei para onde o terrorismo de Estado empurrava os que, em vez de pensar só em si e nas suas carreiras, tinham vontade de influenciar os destinos do país.

Mesmo que estivessem errados em suas convicções, estavam certos na atitude de se opor à ditadura. E foram os mais corajosos.

Percebam porque é tão difícil ensinar história lutando contra essa glamourização da Luta Armada e dos guerrilheiros. Clicando aqui você vai entender porque esses jovens corajosos e as organizações às quais pertenceram nada fizeram pela redemocratização do Brasil.